Eu nem acredito. Com passa rápido. Já passou, aliás. Ontem mesmo eu ainda era o garotinho que não entendia o que as pessoas queriam dizer com isso. Naquela época, o tempo me parecia sempre igual. Só demorava a passar quando algum velho se metia no meu caminho para falar aquilo. Hoje eu acho que estava certo, com a diferença de que hoje sei que somos nós que mudamos. Só não sei se para melhor ou para pior. Mas até aí, quem sabe?
Ainda me lembro de tantas coisas; algumas tão nítidas, outras nem tanto mas todas tão distantes. Às vezes bate aquela vontade louca, aquele desespero de querer viver tudo novamente, talvez retocando uma coisa aqui e acolá, mas aí qual seria a graça? O que já passou, passou, mesmo que permaneça guardado para sempre no baú da memória. É esse acontecer uma só vez que torna a vida tão interessante e mesmo assim teimamos em reclamar. Cada dia que passa, mais certo eu fico de que estamos aqui para aprender.
Ainda me lembro perfeitamente da época em que queria ser comediante. Lembro perfeitamente da sua cara, mãe, quando te contei isso. Ainda consigo ouvir seus gritos se fechar os olhos. O importante é que eles funcionaram e eu não virei hippie nem acabei pedindo esmola na praça da república. Apesar de vocês terem ficado bravos, acho que sabiam que era só uma besteira de adolescente. Me davam bronca mas compravam todos os cds, dvds e livros. George Carlin, Jerry Seinfeld, Russell Peters, Louis CK e Bill Hicks. O Bill veio por último, acho que eu tinha uns quinze anos e foi o que me afetou de forma mais profunda. Não só pelo seu show, pela sua incessante busca pela verdade, mas também pela morte prematura. Me lembro de passar noites em claro, pensando no quão difícil não deveria ter sido para ele, com apenas trinta e dois anos, escrever uma carta sabendo que seria a sua última. Imaginava e compartilhava a dor e a tristeza cada vez que pensava na mão trêmula e nos olhos marejados.
Acontece que não é tão difícil assim. Porque ele sabia, assim como eu sei agora, que tudo isso é sobre família, e que só com ela se atravessa a vida e a morte. Não sei se encontrarei vocês do outro lado, mas isso não me preocupa agora. Só tenho de agradecer e lembrar de todos os momentos que passamos juntos, de cada bronca, cada abraço, cada beijo, um mais especial que o outro. Pode parecer bobeira, mas eu me lembro acima de tudo dos silêncios. Os olhares e sorriso de cumplicidade que compartilhei com cada um de vocês. Obrigado por me mostrarem que às vezes o silêncio é o melhor discurso e me desculpem se por essa carta eu não pareço ter aprendido a lição.
Estou tranquilo e espero que vocês também estejam, pois sei que mesmo na morte permanecerei vivo. Dentro de cada um dos seus corações, assim como vocês viverão no meu, por hoje e por toda a eternidade.
Jo, meu herói imbatível.
Lu, minha guia incansável.
Isa, minha cúmplice.
Com amor,
Pedro, és gênio milagroso c/ as palavra. Doma-as como se fossem meros gantinhos mansos. E a você, sempre estará reservado muito sucesso.
ResponderExcluirSonhadoramente,
Bárbara