- Ah, eaí, beleza?
João passou reto, sem sequer olhar para a cara do amigo e sentou-se na cama em silêncio.
- Chega aí, acabei de baixar um jogo, olha aí.
João concordou de má vontade e se colocou ao lado do anfitrião.
- Calma que tá carregando... Mas que merda esse pc - ele disse chutando o computador.
- Ei!
- Ei o quê?
- Cara, você sabe quantas pessoas tão passando fome agora, neste momento, enquanto você reclama do seu computador? Você sabe quantas pessoas morreram desde que você reclamou do computador? Você sabe quantas pessoas descobriram que iriam morrer enquanto você reclamava do computador? Você sabe quantas pessoas que descobriram que iriam morrer enquanto você reclamava do computador já morreram depois de você reclamar do computador? Você já parou pra pensar em quantas criancinhas, bebês, foram dormir hoje de barriga vazia depois que você reclamou? Eu tô falando de seres humanos, criancinhas. Você não tem vergonha de ficar aí, sentado numa cadeira de couro, a uma temperatura agradável por causa do ar condicionado tomando uma garrafa de água tônica que custa mais do que algumas pessoas ganham por um dia inteiro de trabalho, reclamando do computador que custou mais de dez salários mínimos enquanto tanta desgraça acontece no mundo? Você não tem vergonha na cara?
- Credo cara, o que aconteceu?
Eles se encararam em silêncio por algum tempo até que João disse:
- Ela... ela me largou - e caiu em prantos - o mundo é... é tão cruel... mas por que, por que eu, Deus?
- Calma cara - disse o amigo dando tapinhas no ombro de João - calma, calma.
- Sabe, eu, eu sempre fui tão bom... e agora isso acontece co-comigo? O que é que eu fiz... para merecer tanta... desgraça?
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