Há, ou pelo menos deveria haver, um momento na vida de todas as pessoas em que tudo muda. A concepção de mundo, realidade, vontades e caprichos, tudo muda. E isso muda assim ó, em um piscar de olhos.
Pronto, mudou.
Um nome, um cheiro, uma voz é o suficiente para acelerar o coração e aguçar os sentidos. A noite deixa de ser sinônimo de escuridão para se tornar palco das mais belas conjecturas acerca do futuro e lembranças do passado. As estrelas deixam de ser mero plasma mantido agrupado pela gravidade para se tornar uma declaração silenciosa, que apesar de visível a todos, é inteligível apenas aos dois. A lua deixa de ser um satélite e se torna um espelho. Sua superfície ganha vida e suas crateras formam os olhos, o nariz, a boca e nesse momento você se estica para tocá-la, mas não se irrita quando falha. Pensa que, sob esse mesmo céu iluminado, ele(a) tentou fazer o mesmo. Talvez você até fique com um sorriso idiota no rosto quando se der conta do que está pensando, e em circunstâncias normais, se repreenderia pela idiotice, mas essas não são circunstâncias normais. O Sol continua sendo o astro rei, mas não aparece todas as manhãs por meras leis imutáveis da natureza. Ele se dá ao trabalho de aparecer todos os dias simplesmente pelo prazer de testemunhar cada riso, cada olhar, cada segredo sussurrado ao pé do ouvido. A vida, ah, essa sucessão de eventos aleatórios, o caos, a confusão...
Tudo isso continua.
O caos não florecerá em ordem, ainda haverão mais perguntas do que respostas e o escuro ainda trará consigo todos os seus terrores.
Mas não importa. Porque quando você estiver com medo, perder o equilíbrio e estiver prestes a cair, uma voz surgirá na escuridão. O coração ficará mais tranquilo, e uma mão te ajudará a passar por tudo. Quando a escuridão surgir, se a voz não surgir e a mão não aparecer, basta olhar para a janela. Basta olhar para as estrelas e ler a poesia que a caneta não escreveu e o tempo não apaga. Basta olhar para a lua em toda a sua alvura e ver que ela também está solitária. E mesmo que eles pareçam sempre distantes, é Ele quem manda a luz que a faz brilhar.
E se nada disso funcionar, basta pensar que sob aquele mesmo céu, sob aquelas mesmas estrelas, que mesmo separados por quilômetros de distância, alguém está fazendo a mesma coisa, motivado pelos mesmos sentimentos. E antes que você se dê conta, vai se ver esticando-se para tocá-la.
E quando perceber, surgirá um sorriso idiota no rosto. O mais sincero dos sorrisos.
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