domingo, 27 de maio de 2012

Os Apitadores®

  Eu acredito piamente no poder dos elogios. Acredito na sua força motivacional e estimulante, no seu poder de instigar as pessoas a melhorar e dar o devido reconhecimento ao trabalho que vem sendo exercido. E hoje estou aqui para elogiar o trabalho dos homens responsáveis por noites tranquilas de sono. São os vigilantes que nunca dormem. Os cavaleiros da justiça. Eles são a lanterna no meio do apagão. A faca que corta o pão.
  Eles são Os Apitadores.
  Pra quem não conhece (e que Deus te perdoe) é tipo uma versão tupiniquim de Os Vingadores. Isso é o que alguns podem dizer. A verdade é que Os Vingadores é uma versão Hollywoodiana de Os Apitadores. 
  Qualquer pessoa com acesso a qualquer meio de comunicação sabe o quão perigosa é a cidade de São Paulo. E é quando a noite cai, os lobos uivam e as donzelas estão escondidas em suas casas que Eles aparecem. Verdadeiros fantasmas, mestres nas artes ninja de Taubaté, eles nos defendem. Estão sempre lá com o seu som característico para nos lembrar que a justiça não dorme e não falha.
  Não estão atrás de fama ou reconhecimento. Deixam, sem relutar, a polícia levar os créditos por suas ações. Recolhem suas recompensas no sorriso inocente de uma criança e nos olhares gratificantes dos passantes. Saber que o mundo sobreviveu a mais um dia, e que as pessoas estão vivas para ver o Sol nascer outra vez é suficiente.
  Se ainda não ficou claro a magnitude desses homens nas nossas vidas, tentarei colocar de outra forma.
  As crianças quando vão dormir colocam um pijama do Super Homem. O Super Homem quando vai dormir coloca um pijama do Chuck Norris. O Chuck Norris quando vai dormir usa um pijama do Chuck Norris, afinal ele é o Chuck Norris. Mas o que poucos sabem é que na sua mesa de cabeceira, ao alcance da mão, há um apito. Ao primeiro sinal de distúrbio na energia terrestre, aquele apito soará. E eles se juntarão. E a paz será reestabelecida.
  No momento em que eu fecho os olhos para dormir e minha mente começa a divagar sobre os perigos que habitam a escuridão, apenas uma coisa é capaz de me acalmar. Um som.
  Um apito. Piuiiiiiiiiiiiiuiiiiiiiiiiiii.
  Como poderia me preocupar quando sei que eles estarão lá? Não importa quantos bandidos tenham armas, quantos ETs tenham invadido a Terra e quantos presidentes idiotas estejam no poder. Que o mar se levante em fúria e a Terra se abra para nos devorar. No mais profundo círculo do inferno ou no mais distante planeta do universo, eles estarão lá para nos proteger.
  Um apito é o suficiente para cessar guerras, fazer o paraíso tremer e fazer os demônios voltarem para o inferno.
  O tamanho da segurança: um apito.
  O preço: sua noite de sono.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Cachorro-quente, MST e Farofa.

   Eu não tenho lá muito controle sobre mim mesmo. Eu até consigo, dependendo do tamanho da vontade ou necessidade, correr alguns km, segurar a fome até a hora da próxima refeição e ainda fazer uma coisa ou outra que não me agrade. Só não inclua o sono no meio.
   Eu estou em casa, depois do almoço, e os olhos pesados quase desistiram de abrir. Talvez você seja familiar com a situação. Enfim, eu pego o celular, coloco-o para despertar em vinte minutos e vou dormir. Deito na cama, no sofá ou no chão dependendo da minha sorte na ocasião e fecho os olhos. Antes de dormir prometo a mim mesmo acordar ao primeiro sinal do despertador. Completado o ritual, me viro para o lado e 1, 2 e zZzZzZzZzZ...
   O meu controle sobre o sono é estranhamente semelhante ao de um homem preguiçoso sobre seu cachorro incansável. Se o homem precisar segurar o cachorro, vamos dizer que passa uma mulher em um vestido de carne, ele até consegue. Apesar de que, covenhamos, ele bem se sentiu tentado a deixar o cachorro pegar aquela carne, mas enfim... Agora, vamos dizer que o homem precisa parar o cachorro porque tem um rato passando, ele até segura o cachorro, mas assim que este decide partir para cima, o outro já solta e fica com aquela cara de "Ah, mas eu tentei."
   Uma música familiar começa a tocar, a princípio baixinha, no limiar da audição, e depois crescendo até se tornar impossível de ser ignorada. É o meu despertador. Estico o braço para a mesa da cabeceira e o desarmo. Fico um tempo olhando pro teto tentando me lembrar de onde e quando estou, mas a cabeça dói demais para qualquer pensamento coerente. Olho para a direita. Está escuro mas ainda dá para enxergar uma coisa ou outra.
   Uma fungada chama minha atenção para o lado esquerdo. Quando olho vejo um cachorro, grande e preguiçoso, deitado. Ele respira profundamente e ronca vez ou outra. Alguma coisa na minha cabeça fica me dizendo que eu devo tirá-lo de lá, mas não consigo me lembrar do motivo. E não parece ter muita importância.
   Abraço o travesseiro e fecho os olhos, com aquele pensamento ainda martelando na cabeça.
   "Só dessa vez" penso eu tentando me tranquilizar.
   "Só dessa vez..." e volto a dormir.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Cordialidade efetiva





"Para todos os que usam produtos da concorrência:
 

                Feliz dia dos pais."    
           





   Durex, fabricante de preservativos.


   Simples e efetivo. Genial.

Haikai romântico

   O amor é como uma flor,
   que murcha
   e vira adubo.

Jornalismo

                                                               Millôr Fernandes.
   
   Li recentemente que a missão da imprensa é de ser "os olhos e ouvidos" da nação.
   Preparem-se para unicórnios sem chifre na cobertura do apocalipse.


domingo, 6 de maio de 2012

Futuro, sonhos e power rangers.

  O herói a ser retratado aqui atende pela alcunha de Alfredo. Um jovem que vivia pensando no futuro e na miríade de possibilidades e aventuras que estavam por vir. Pensava em várias delas, ansioso pelo dia em que elas chegariam.O fato é que pensava tanto no futuro que, aos cinco anos já sabia o que queria ser.
  - Pai, eu já sei o que quero ser quando crescer.
  - O quê, filho? - pergunta o pai, surpreso pela conversa do filho.
  - Um power ranger.
  - O quê?
  - Aquele herói da TV, sabe? Aí eu vou poder lutar com os monstros.
  Como o filho ainda era pequeno, o pai pegou leve na hora de tirar a ideia absurda da cabeça do pequeno, mas tentou deixar claro que sonhos não levam a lugar algum.
  - Mas filho, você não acha perigoso? Além do mais que você ficaria muito tempo longe de casa, e quem faria companhia para mim e pra sua mãe?
  O pequeno parou um pouco para pensar e viu que não era mesmo uma ideia tão boa.
  Alfredo cresceu, mas não abandonou seu espírito sonhador apesar da falha de planejamento do sonho anterior.
  - Pai, - começou o menino de agora nove anos que acabara de ganhar uma bicicleta nova - eu já sei o que quero ser quando crescer.
  - O quê, filho? - perguntou o pai tendo um déjà vu.
  - Eu vou andar de bicicleta. Agora que já sei andar sem rodinhas e consigo descer a rua da casa da tia Alda acho que eu já tô pronto. E ah, não precisa se preocupar, eu vou fazer companhia pra você e pra mamãe. Quando eu for andar eu não preciso ir muito longe não, eu fico na rua de casa mesmo aí eu vou estar pertinho.
  O pai ficou comovido em como o filho havia se preocupado com ele e a esposa, mas precisava tirar logo essas besteiras da cabeça do moleque, senão, sabe-se lá o que ele se tornaria.
  - Filho, mas e se um dia você cair e se machucar? Como eu e sua mãe ficaríamos? Você pode ser atropelado e quebrar uma perna ou algo pior, que Deus me livre. O papai só te avisa sobre isso, porque quer o melhor para você.
  Mais uma vez, o não mais tão pequeno sonhador parou para pensar e viu que realmente era um pouco perigoso. O Douglas, que morava na rua de cima, havia caído e precisou ir pro hospital. E Alfredo não gostava de hospitais.
  O tempo passou, Alfredo cresceu e agora tinha o plano perfeito.
  - Pai, eu já sei o que quero ser quando crescer.
  - O quê, moleque? - o pai achou que havia arrancado de vez essas besteiras da cabeça de seu filho mas pelo visto ele se enganara.
  - Jogador de futebol.
  Precisava cortar essas ideias da cabeça de Alfredo de uma vez por todas, portanto seria mais duro agora.
  - Alfredo, ma - e o pai foi interrompido.
  - Calma pai, já pensei em tudo. Apesar de ter de viajar pros jogos, isso é só no final de semana, então eu vou poder fazer companhia pra vocês dois. Ah, e não tem perigo nenhum porque todo mundo usa caneleira, então vocês não precisam se preocupar com machucados.
  - Filho - começou o pai de forma dócil - você gosta da TV que tem no seu quarto? Você gosta da casa, das roupas e da comida? - Alfredo balançou a cabeça concordando com todas as perguntas - Então, pra ter tudo isso é preciso dinheiro.
  - Mas pai, isso não é problema, olha quanto dinheiro o Ronaldo tem.
  - Tá, mas você sabia que mais de noventa por cento dos jogadores de futebol do Brasil ganham menos de quinhentos reais por mês? Como é que você vai sustentar a mim e a sua mãe ganhando pouco? E eu não tô te dando bronca, só quero o melhor pra você.
  O agora adolescente Alfredo percebeu que na vida é realmente difícil ganhar dinheiro fazendo o que se gosta.
  O tempo continuou passando e Alfredo, com dezoito anos, no último ano da escola, teve outro papo com o pai sobre futuro.
  - Pai, eu não sei o que quero ser quando crescer...
  - Alfredo, assim não dá! Como você vai sustentar a mim e a sua mãe, como vai cuidar de nós sem saber o que fazer? Eu já avisei pra você tirar essas besteiras da cabeça, não se trata de querer! E eu já vou logo avisando, filho vagabundo não vive debaixo do meu teto. E eu só falo isso pois quero o melhor pra você!
  Mesmo um tempo após um cabisbaixo Alfredo ter deixado a presença do pai, este ainda sussurrava pra si mesmo:
  - Só me faltava essa mesmo. Não sabe o quer quer fazer... Meu Deus, onde foi que eu errei com esse moleque?