domingo, 6 de maio de 2012

Futuro, sonhos e power rangers.

  O herói a ser retratado aqui atende pela alcunha de Alfredo. Um jovem que vivia pensando no futuro e na miríade de possibilidades e aventuras que estavam por vir. Pensava em várias delas, ansioso pelo dia em que elas chegariam.O fato é que pensava tanto no futuro que, aos cinco anos já sabia o que queria ser.
  - Pai, eu já sei o que quero ser quando crescer.
  - O quê, filho? - pergunta o pai, surpreso pela conversa do filho.
  - Um power ranger.
  - O quê?
  - Aquele herói da TV, sabe? Aí eu vou poder lutar com os monstros.
  Como o filho ainda era pequeno, o pai pegou leve na hora de tirar a ideia absurda da cabeça do pequeno, mas tentou deixar claro que sonhos não levam a lugar algum.
  - Mas filho, você não acha perigoso? Além do mais que você ficaria muito tempo longe de casa, e quem faria companhia para mim e pra sua mãe?
  O pequeno parou um pouco para pensar e viu que não era mesmo uma ideia tão boa.
  Alfredo cresceu, mas não abandonou seu espírito sonhador apesar da falha de planejamento do sonho anterior.
  - Pai, - começou o menino de agora nove anos que acabara de ganhar uma bicicleta nova - eu já sei o que quero ser quando crescer.
  - O quê, filho? - perguntou o pai tendo um déjà vu.
  - Eu vou andar de bicicleta. Agora que já sei andar sem rodinhas e consigo descer a rua da casa da tia Alda acho que eu já tô pronto. E ah, não precisa se preocupar, eu vou fazer companhia pra você e pra mamãe. Quando eu for andar eu não preciso ir muito longe não, eu fico na rua de casa mesmo aí eu vou estar pertinho.
  O pai ficou comovido em como o filho havia se preocupado com ele e a esposa, mas precisava tirar logo essas besteiras da cabeça do moleque, senão, sabe-se lá o que ele se tornaria.
  - Filho, mas e se um dia você cair e se machucar? Como eu e sua mãe ficaríamos? Você pode ser atropelado e quebrar uma perna ou algo pior, que Deus me livre. O papai só te avisa sobre isso, porque quer o melhor para você.
  Mais uma vez, o não mais tão pequeno sonhador parou para pensar e viu que realmente era um pouco perigoso. O Douglas, que morava na rua de cima, havia caído e precisou ir pro hospital. E Alfredo não gostava de hospitais.
  O tempo passou, Alfredo cresceu e agora tinha o plano perfeito.
  - Pai, eu já sei o que quero ser quando crescer.
  - O quê, moleque? - o pai achou que havia arrancado de vez essas besteiras da cabeça de seu filho mas pelo visto ele se enganara.
  - Jogador de futebol.
  Precisava cortar essas ideias da cabeça de Alfredo de uma vez por todas, portanto seria mais duro agora.
  - Alfredo, ma - e o pai foi interrompido.
  - Calma pai, já pensei em tudo. Apesar de ter de viajar pros jogos, isso é só no final de semana, então eu vou poder fazer companhia pra vocês dois. Ah, e não tem perigo nenhum porque todo mundo usa caneleira, então vocês não precisam se preocupar com machucados.
  - Filho - começou o pai de forma dócil - você gosta da TV que tem no seu quarto? Você gosta da casa, das roupas e da comida? - Alfredo balançou a cabeça concordando com todas as perguntas - Então, pra ter tudo isso é preciso dinheiro.
  - Mas pai, isso não é problema, olha quanto dinheiro o Ronaldo tem.
  - Tá, mas você sabia que mais de noventa por cento dos jogadores de futebol do Brasil ganham menos de quinhentos reais por mês? Como é que você vai sustentar a mim e a sua mãe ganhando pouco? E eu não tô te dando bronca, só quero o melhor pra você.
  O agora adolescente Alfredo percebeu que na vida é realmente difícil ganhar dinheiro fazendo o que se gosta.
  O tempo continuou passando e Alfredo, com dezoito anos, no último ano da escola, teve outro papo com o pai sobre futuro.
  - Pai, eu não sei o que quero ser quando crescer...
  - Alfredo, assim não dá! Como você vai sustentar a mim e a sua mãe, como vai cuidar de nós sem saber o que fazer? Eu já avisei pra você tirar essas besteiras da cabeça, não se trata de querer! E eu já vou logo avisando, filho vagabundo não vive debaixo do meu teto. E eu só falo isso pois quero o melhor pra você!
  Mesmo um tempo após um cabisbaixo Alfredo ter deixado a presença do pai, este ainda sussurrava pra si mesmo:
  - Só me faltava essa mesmo. Não sabe o quer quer fazer... Meu Deus, onde foi que eu errei com esse moleque?

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