Luíz Fernando era um cara normal. Tinha vinte e
sete anos, ensino superior, uma noiva e muitas contas para pagar. A vida era
dura consigo, e sua rotina se resumia a ir ao trabalho, chegar em casa, dar boa
noite ao William Bonner e dormir. E era isso o que ele fazia naquela noite até
agora. Sua noiva fora viajar para a casa da sogra no interior e as pilhas
fictícias de papel que o aguardavam no escritório não podiam esperar. Conseguiu
finalmente o fim de semana livre com o qual tanto sonhara.
Era um sábado e ele não fizera nada o dia inteiro. Se contentou em se sentar na varanda e abrir uma latinha de cerveja, uma após a outra. Fazia muito tempo que ele não fazia nada. E convenhamos, não fazer nada é a melhor coisa que existe para se fazer.
Era um sábado e ele não fizera nada o dia inteiro. Se contentou em se sentar na varanda e abrir uma latinha de cerveja, uma após a outra. Fazia muito tempo que ele não fazia nada. E convenhamos, não fazer nada é a melhor coisa que existe para se fazer.
O sono estava tranquilo. Em seus sonhos os homens eram alegres e as mulheres vestiam saias extremamente curtas. E talvez por isso
ele acordou tão furioso quando aquele barulho pequenino, insignificante, quase
inexistente o acordou. tic, tic, tic...
Desde pequeno odiava o barulho do relógio.
Aquele tic, tac, tic, tac... O pior era
quando era só tic, tic, tic... Como
naquela noite. Pensou ter ouvido um barulho. Não o tic, tic, mas o de uma porta
rangendo lentamente ao longe e depois o silêncio. Pensou se não seria a cerveja surtindo efeito.
Pensou ter ouvido uns passos e lembrou da feijoada, mas não ousou levantar para
ter certeza. Luíz Fernando poderia ser um cara comum, mas seu medo era
extraordinário. Ele se virou para a parede cobrindo-se com o cobertor até o
pescoço sem se importar com o calor. Fechou os olhos e tentou dormir. O barulho de portas rangendo e passos
ecoando pelos corredores desapareceram, mas não o tic-tic-tic.
Suor escorria pelo seu rosto enquanto ele
estava embrulhado no cobertor sentindo a raiva começar a dominá-lo. Tic, tic, tic...
Era isso. Não aturaria mais aquele absurdo.
Era o seu fim de semana livre e ele não deixaria um relógio insignificante estragá-lo.
Estava prestes a se levantar quando se lembrou de que na verdade não tinha
relógios analógicos em casa.
Arregalou os olhos, mas já era tarde demais.
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