
Em frente ao teclado quem digita é Pedro, o "escritor".
Sentado na cadeira, em frente a um monte de papel com caneta na mão quem escreve é Pedro, o garoto preguiçoso que sonha em tornar-se escritor.
A razão mais provável, porém, que explique meu bloqueio mental é eu mesmo. A culpa não é minha, mas sim da caneta e do cheiro de papel.
Agora mesmo, estou escrevendo apenas por escrever. Não tive nenhuma ideia, e não sei como vai acabar o texto. Estou pura e simplesmente escrevendo. Eu gosto do jeito como a caneta desliza. Azul, profunda e superficial, rápida porém firme, caprichosa e prática. Eu gosto das canetas, especialmente as azuis. Não são tão lúgubres como as pretas, ou vivas com as vermelhas, mas seus traços são sérios o suficiente para se fazer ouvir e suaves o suficiente para arrancar uns risos. Eu gosto de canetas, canetas azuis.
Agora me deu vontade de ser como uma caneta. Ela é útil, pode ser alegre ou triste, séria ou brincalhona, dependendo de quem a maneja, porém possui vida limitada. Uma hora acaba, e nessa parte não é tão diferente de nós. Pode ter seu fim por uso ou falta dele. Se eu fosse uma caneta, gostaria que fosse por uso, mas não muito cedo. Com certeza iria querer conhecer outras canetas. Pessoalmente, admito ter uma quedinha pelas ruivas, mas nada definido. Não se pode escolher uma caneta pela sua cor. Há de considerar formato e tamanho do tubo, material e etc... Mas acredito que saberei qual é a especial quando a vir. Não sei qual tipo de sinal esperar, mas algo como uma tampa caída e um jato de tinta não é pedir muito.
Agora, com a mão cansada, lembro que não posso ser uma caneta. Esse é o ponto baixo de escrever. Te enche de sonhos, projeções, te dá uma vida e depois as tira, tão de repente quanto vieram. Mas nada me impede, de amanhã, com a mão descansada escrever uma história. Provavelmente seria um romance de amor. Já sei até como começar: "Vi a tampa avermelhada, senti o cheiro que sua tinta exalava e minha ponta tremeu. Tremeu, e soltou tinta. Torci para que, quando ele parasse de escrever, que nos colocasse juntinhos. Um do lado do outro."
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