segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Por isso o Brasil não vai pra frente

   Imagine um mundo parecido com o nosso, porém perfeito. Nesse mundo perfeito, imaginemos um cidadão perfeitamente imaginário, Luís.
   Os primeiros raios de Sol começam a entrar pela janela, e os pássaros cantam a sinfonia mais bela que já se ouviu. Luís se estica na sua cama de solteiro e já acorda de bom humor. Calça os chinelos e vai para a cozinha tomar café enquanto lê o jornal de hoje. Que é igual ao de ontem, o de anteontem, anteanteontem and so on. Tudo o que está escrito no jornal é:
    Dia 27 de Agosto de 2012. Data do fechamento da edição: 01:22
   Mais um dia perfeito, com um tempo maravilhoso.
   Todos os times ganharam seus jogos, e atualmente temos 7.398 times na primeira colocação da série A. Recorde só batido pelos mesmos 7.398 times no ano anterior.
   Saiu o resultado da mega-sena acumulada e mais uma vez, número recorde de vencedores: 400 milhões de bilhetes brasileiros foram premiados, e a mega-sena segue com sua porcentagem de 100% de acertos.
   Previsão do tempo para hoje, 27 de Agosto: Dia esplendoroso, com nuvens maravilhosas e pássaros exalando perfeição. Tenha um bom dia perfeito!
   Luís escova os dentes branquíssimos, coloca sua roupa feita pelo melhor estilista do mundo e penteia o seu cabelo perfeito. Sai de casa, não tranca e porta e chama o elevador. Espera menos de cinco segundos até a máquina chegar ao seu andar e cumprimentá-lo com um “Que dia perfeito para se viver!”. Entra no elevador e fica ao lado da loira perfeita que mora dois andares acima do seu.
   - Bom dia. – ela diz.
   - Bom dia.
   O elevador começa a descer. Ele está nervoso, suas mãos suam, e ele tenta pensar em qualquer coisa para conversar com ela.
   - É... você viu o... o futebol?
   - Não, o que aconteceu?
   - Ah, eles tipo... jogaram né.
   - E quem ganhou?
   - Todo mundo.
   Ela olha apreensiva para o painel de andares do elevador e ele percebe que ela está ansiosa para se livrar dele. Tenta pensar em qualquer coisa, qualquer coisa mesmo.
   - Política! Você viu só?
   - O quê?
   - Ouvi dizer que eles tão tentando abrir mão de qualquer remuneração, querem exercer a profissão apenas pelo amor.
   - Na verdade eles já fizeram isso, e não há mais profissão a exercer. As pessoas estão satisfeitas, nosso país é perfeito, não há nada que precisa ser mudado.
   Ela não tirava os olhos do painel, e o tom professoral de sua voz alertou-o de que ele só tinha mais uma chance. Pensou, pensou, tentou lembrar de quase qualquer coisa. Algo um pouquinho melhor do que futebol ou política. Então se lembrou. Seu avô vivia dizendo como, no seu tempo, falava do clima para abaixar a guarda das moçoilas.
   - E esse tempo, hein?
   - O que tem ele?
   - Ah, mó... perfeito, né?
   Ela soltou uma bufada de ar perfeito, o elevador apitou desejando um excelentíssimo dia a ela e ele ficou sozinho, no elevador, pensando, com saudades do tempo do seu avô.
   Do tempo em que este mundo ainda tinha enredo.

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