terça-feira, 18 de setembro de 2012
Consulta do inferno
Minha mão estava ensopada de suor. Meus olhos ardiam e meu coração batia descompassado, quase tão alto quanto aquela máquina infernal que eu ouvia do outro lado da porta. O ponteiro do relógio na parede passava devagar, como que para prolongar minha tortura. A cada vez que a máquina parava e os murmúrios chegavam até mim, eu imaginava o infeliz que estava lá agora, cuspindo sangue e pedindo a Deus que tudo acabe o mais rápido possível.
Às vezes eu ouvia o sádico que aplicava a tortura rindo por cima do motor da máquina e um tremor me subia a espinha, quase como se um dedo de gelo deslizasse devagar pelas minhas costas, anunciando o que estava por vir. Minha blusa estava pesada de suor quando o desespero tomou conta de mim e eu decidi tentar o que homem algum havia conseguido.
Levantei-me com calma, sem fazer movimentos bruscos, evitando qualquer barulho, e caminhei até a porta. Fiquei de costas para ela e me apoiei bem devagar, com os olhos percorrendo a sala onde eu me encontrava, alerta para o caso de alguém surgir e me surpreender. Apalpei a porta procurando a maçaneta e quando a encontrei girei-a lentamente. Meu coração agora batia tão rápido que eu pensava que eles ouviriam e entrariam na sala a qualquer momento, e eu sabia que se isso acontecesse eu pagaria caro. Girei a maçaneta até o final e meu coração parou ao mesmo tempo que o barulho da máquina. A porta não abria. Ouvi passos vindo na minha direção, chegando lentamente, e eu sabia que seria a minha vez. Era tudo ou nada.
Comecei a puxar e chacoalhar a maçaneta de todas as formas possíveis, mas a porta estava trancada. Provavelmente a tranca era reforçada, justamente para ocasiões como essa.
A porta do outro lado da sala se abriu e eu puxei a maçaneta mais uma vez, só por desencargo de consciência.
Nada.
- Boa tarde Sr. André, é a sua vez.
Olhei para o meu carrasco e dei um sorriso fraco.
- Ué, o que você tá fazendo aí na porta? Tava querendo ir embora?
- Ir embora? Imagina. Eu só queria um pouco de ar.
Ele tinha na cara um sorriso que parecia totalmente genuíno, e em seus olhos eu lia a diversão de decidir como eu sofreria hoje.
Rendido, caminhei até ele e entrei na salinha onde ele mantinha os mais diversos instrumentos pontiagudos e elementos químicos perigosos. Encontrei o azarado que gritara enquanto eu esperava. Ele sorriu debilmente pra mim enquanto se retirava e eu vi que lhe faltavam uns dentes. Um arrepio quase me fez cair no chão.
No próximo instante lá estava eu, preso a uma cadeira com a boca aberta enquanto ele decidia qual dos seus instrumentos seria a fonte da minha ruína.
- E esses dentes, tá escovando direitinho?
Tentei responder mas ele já enfiara um negócio de metal na minha boca.
A verdade é que ele não se importava. Eu devia permanecer imóvel e em silêncio.
Enquanto ele aproveitava a minha dor e pensava em como gastaria o dinheiro da consulta.
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